domingo, abril 23, 2006

Breve manual para cumprir suas metas em 2006

Breve manual para cumprir suas metas em 2006
Por Roberto Goldkorn

Um amigo, comunista convicto, marxista-leninista, me disse que eu não deveria comer aves na passagem do ano. Quando, perguntei a razão (só para conferir) disse-me que as aves 'ciscam para trás', e por isso poderiam fazer a nossa vida no novo ano, andar para trás. Uma cunhada evangélica de carteirinha, só usa calcinha branca alegando um vago 'para dar sorte'. Poucas pessoas escapam do arsenal de comportamentos supersticiosos, ligados à virada do ano.
E isso tem um bom motivo: desde a mais remota antiguidade, os ciclos que terminam ou que se iniciam eram marcados na memória das pessoas, através de rituais, talvez por se sentirem intimamente vinculadas à natureza (e os seus ciclos), ou justamente para se tornarem parte desse relógio natural, dominando-o. Assim, acompanhar mudanças de ciclos, seja ela o início da primavera (e do degelo) no hemisfério norte ou o fim da época das colheitas, temporada e chuvas, solstício de verão... era uma maneira de reafirmar os seus vínculos e ao mesmo tempo o seu domínio dessa engrenagem cósmica. Mas para a maioria de nós, esses gestos tornam-se inócuos e se perdem logo que o ano começa e o 'bicho pega'.
É uma pena, pois poderíamos sim aproveitar esse momento para fazer alguns ajustes finos na nossa vida. Mas o que efetivamente podemos fazer, de fecundo, nesse momento único?

Manual de metas - Bem, um dos principais fatores que levam para o ralo as nossas resoluções de fim de ano são: o esquecimento e a irrealidade das decisões. Contra o esquecimento, sugiro em primeiro lugar iniciar um diário. Não precisa ser um diário de confissões, guardado a sete chaves, e cuja violação poderia levá-lo à cadeia, ou a execração pública. Um diário de relatos dos fatos do seu cotidiano, fatos marcantes e acompanhamento das realizações ou dos insucessos, pode ser muito útil, no final do ano, para que você faça um feedback das suas forças e fraquezas e possa corrigir rumos, evitar e repetir erros semelhantes disfarçados de novos erros, etc.
Esse deve ser um diário sucinto, ou seja, cada dia deve ser resumido ao máximo, sem discursos ou prolixidade. Contra o esquecimento, um quadro negro, ou branco, na parede do quarto, escritório ou até da cozinha, ajuda muito. Nesse quadro, devemos colocar à esquerda, as duas ou três decisões (projetos) para o ano e à direita, as fases esperadas e a indicação, se foram cumpridas ou não. A esse quadro dou o nome de recordatário.
Mas uma pessoa sensata não faz apenas planos de curto prazo que caibam dentro de 365 dias. Planos mais realistas ou por natureza mais extensivos, como um curso universitário, devem ser previstos, e a sua etapa anual, assinalada. Mas esse quadro deve apenas, ser um sinalizador, e nunca um gerador de ansiedade, pois a vida quase sempre tem seus próprios planos para nós, num ritmo que dificilmente coincide com as nossas marcações.
Quanto a esses planos, o que pode ser efetivamente colocado na lista, e o que tem pouca chance de vir a se realizar? Existe uma formulação ideal, para melhorar a realização dos nossos projetos?
Vamos lá, nunca diga: "Em 2006 vou emagrecer!" Essa frase, certamente já está desgastada, sem força semântica, desacreditada. Mas pode ser colocada da seguinte maneira: "Em 2006, vou retirar do meu cardápio, as massas, as frituras, os embutidos, o açúcar, enfim tudo que faz mal e engorda. Ao mesmo tempo em que farei exercícios durante todo ano, pelo menos três vezes por semana. Acima de tudo vou aprender a me amar mais e melhor." Mas, essa frase pode ser aprimorada ainda mais: "Em 2006, vou passar por uma desintoxicação alimentar em janeiro e fevereiro. Em março e abril, retiro as massas e frituras, em maio e junho retiro o pão e os doces" e assim por diante.
Nunca prometa: "Em 2006 vou encontrar o meu grande amor!" A mente individual, assim como a mente coletiva, aceita melhor o seguinte decreto: "Em 2006, vou amar mais, a mim mesmo (a), a minha vida, as pessoas à minha volta, e entregar a Deus a tarefa de encontrar o meu par perfeito, aquele (a) que será o (a) melhor para mim. Para isso começo agora, a fazer um inventário dos meus hábitos anti-amor, dos meus pensamentos anti-amor, e vou na medida do possível, corrigi-los."
Prometer entre um gole e outro de pro-seco, que vai "virar a mesa e ganhar muito dinheiro em 2006", em geral não passa de uma bravata, e não dá em nada. Mas podemos decretar o seguinte: "Vou aproveitar esse novo ano, para repensar a maneira como me relaciono com o dinheiro. Vou começar uma poupança com 1 real, que será o símbolo de uma mudança de atitude em relação ao dinheiro. Vou fazer um balanço da minha relação com o dinheiro nesse ano que passou. Se concluir que trabalhei menos que podia, vou me empenhar mais. Se fui muito perdulário, vou ser mais poupador, e renunciar a alguns prazeres imediatos, para poder fazer "caixa". Mas se concluir que estive insistindo no caminho errado, vou buscar novas alternativas, sabendo que o mundo está repleto de oportunidades, e me afastar das pessoas que não querem progredir e me arrastam junto para longe da riqueza."
As resoluções de fim de ano, devem ser realistas, se quisermos mudar de vida, mas devem ter um lugar para o milagre. Deixar um espaço, para a divindade mudar tudo, é sempre sábio, e saber lidar com essas guinadas do destino, é o passaporte contra a neurose e a loucura.
No fim, apesar de todos os planos, e resoluções, o refrão da música, ainda é o melhor conselho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu..." Que a vida plena possa nos levar a todos, ao destino que ela escolher em 2006! Se esse destino for o amor, a prosperidade e a saúde, aí, é só agradecer e celebrar.