sábado, fevereiro 26, 2005

Texto by Martha Medeiros

:: EU TAMBÉM
by Martha Medeiros

Você deve lembrar para quantas pessoas (excentuando-se pais, filhos e amigos) você já disse "eu te amo": não foram muitas. Amor pra valer não é sentimento que se sinta por uma multidão. Por duas ou três já terá sido uma bênção, e a maioria de nós talvez tenha dito isso apenas para uma. Por outro lado, o "eu também" tem sido repetido à exaustão. "Eu também" sai fácil. "Eu também" não significa nada. Alguém lhe diz "eu te amo" e você não ama essa pessoa. Qual a saída? Ficar quieto e segurar o constrangimento, ou dizer "eu também" e satisfazer momentaneamente a necessidade de retribuição do outro. Por que você não diz "eu também te amo"? Porque é uma frase longa demais e mentirosa demais, e não se deve mentir sobre sentimentos. Se você realmente sente, você diz. Caso contrário, o "eu também" liquida a questão. Pobre do ouvinte do "eu também". Ele se inspira todo para dizer "você é a pessoa mais especial que eu já encontrei na minha vida e pretendo passar o resto dos meus dias ao seu lado", e tudo o que ele ouve de volta são aquelas duas palavrinhas preguiçosas. Se ele tivesse dito "eu não agüento mais comer pizza e hamburguer nos finais de semana, ando com saudade do rango da minha velha", o "eu também" viria da mesma forma, talvez até mais animado. "Eu também" deveria ser proibido nos diálogos amorosos. Ou a pessoa diz "eu também sou louca por você", "eu também não vejo a hora de a gente ficar junto", "eu também nunca senti isso antes", ou não diz nada. Apenas sorri. Pô, pelo menos sorrir, o que é que custa? Abaixo o "eu também" resumido. O "eu também" sorumbático. O "eu também" automático. Automático, sim. Experimente segurar o rosto da pessoa que você ama entre suas mãos, ficar face a face, bem perto mesmo, e dizer com os olhos semi-abertos e a voz mais macia do mundo: "eu te detesto". O outro vai responder "eu também" cheio de amor pra dar. Um distraído, isso é o que ele é. Na hora de declarar-se, não basta o sujeito e o advérbio: queremos verbo.

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